Durante muito tempo, dizer sim era quase uma obrigação. Agradecer qualquer oportunidade, aceitar qualquer valor – ou mesmo nenhum. Trabalhar com amor sempre foi confundido com trabalhar sem retorno, como se o talento fosse uma dádiva gratuita e o esforço, uma coisa menor.

Em Angola e em muitos outros contextos africanos, espera-se que a mulher ajude, cuide, ofereça. Isso reflecte-se até na forma como nos posicionamos profissionalmente. Quantas vezes já ouviste faz só esse favor, é só uma ajudinha ou isto é bom para a tua visibilidade? E tu, por medo de parecer ingrata ou interesseira, aceitaste.

Mas há um custo silencioso em dizer sim a tudo. E esse custo, muitas vezes, é o teu tempo, a tua energia, a tua saúde emocional e até a tua criatividade.

Não é fácil definir o valor do nosso trabalho quando crescemos a ouvir que somos boas pessoas por darmos tudo de nós. Mas a verdade é esta: o teu trabalho tem valor porque tu tens valor. O que sabes fazer levou tempo, estudo, quedas e recomeços. O teu saber merece ser reconhecido – e pago.

Não estamos a falar apenas de dinheiro, mas sim de consciência do que ofereces. Saber quanto tempo dedicas, que recursos usas, que formação tiveste, quais são as tuas despesas mínimas. Fazer contas. Saber dizer não. Definir limites. Isso também é auto-cuidado.

“Durante anos fiz consultoria de graça. Quando comecei a cobrar, perdi alguns ‘clientes’ – e ganhei tempo, respeito e outros que realmente valorizam o que faço.”
— Sónia, 38 anos, empreendedora digital

“A primeira vez que disse o meu preço em voz alta, tremi. Mas hoje não baixo o valor do meu serviço para caber em expectativas alheias.”
– Mirela, 29 anos, fotógrafa

Claro que podes ajustar valores conforme o contexto, criar pacotes e negociar. Mas não precisas de te diminuir para seres aceite. E não és menos generosa por cobrar. Amar o que fazes não é desculpa para não receberes por isso.

Há histórias de mulheres que começaram a cobrar e perderam “clientes”. Mas também ganharam respeito, tempo e novas oportunidades com quem entende que o valor não está apenas no produto final, mas na jornada até ele.

Se te sentes insegura para cobrar, começa por escrever os teus custos, o teu tempo médio de entrega, os teus diferenciais. Lê em voz alta o teu preço. Treina com uma amiga. E lembra-te: ninguém te vai valorizar mais do que tu própria.

O mundo precisa de mulheres que saibam o que valem – e que saibam cobrar por isso com dignidade. Não por vaidade. Mas por justiça. O teu trabalho é expressão. É entrega. É tempo de vida. E tudo isso… custa. E vale.

Já aprendeste a cobrar com confiança? Partilha connosco a tua experiência em info@mulheres.ao ou marca @mulheres.ao nas tuas partilhas. Estamos aqui para dar eco à tua voz.

 

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1 comentário

  1. Paula Silva on

    Senti-me profundamente tocada. Porque há um dia , às vezes aos poucos, às vezes de repente , em que percebemos que fomos usadas. Dói perceber isso. Dói mais ainda quando nos lembramos das vezes em que nos demos por inteiro, acreditando que estávamos a fazer o bem, a ajudar, a construir algo. E estávamos… mas à custa de nós mesmas. Do nosso descanso, da nossa energia, da nossa saúde emocional e acima de tudo da nossa família.
    Este texto é um soco no estômago, mas também é um abraço. Porque lembra-nos que não estamos sozinhas. E que é possível mudar. Com consciência. Com coragem. E com limites.

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