O tabu como barreira social

Apesar do avanço das instituições de saúde em infra-estrutura e capacidade técnica, o acesso e a adesão ao planeamento familiar em Angola, continuam a ser limitados. É um tema ainda abordado com tabus, alimentados por desinformação e desigualdades.

Em diversas partes do país, particularmente entre as famílias de baixa e média renda, a conversa sobre planeamento familiar, ainda causa muita desconfiança. Persistem crenças segundo as quais o uso de métodos contraceptivos compromete a fertilidade ou contraria valores culturais. Esta percepção, sustentada por mitos e desconhecimento, resulta em gravidezes não planeadas, abandono escolar, mortes maternas, abortos inseguros e ciclos de pobreza que se estendem por várias gerações.

Autonomia reprodutiva: uma alternativa para o progresso

O planeamento familiar é mais do que uma decisão individual. Representa uma necessidade colectiva, com impacto directo na saúde pública, na estabilidade económica e na construção da autonomia das mulheres. Permitir que cada mulher ou casal decida quando e quantos filhos ter, propicia uma maternidade mais segura, desejada e sustentável.

Planeamento familiar: dados estatísticos

O Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) em Angola, considera que cerca de 38% das mulheres casadas continuam sem acesso adequado ao planeamento familiar. Ademais, 35% das adolescentes entre os 15 e 19 anos já tiveram uma gravidez.

Na região da África Austral, Angola está entre os países cujo uso de métodos contraceptivos modernos mantém-se abaixo da média e apresentam maiores carências no sector. As zonas rurais e periféricas são as que enfrentam as maiores dificuldades, onde o acesso aos serviços de saúde é limitado, a desinformação é predominante e os recursos disponíveis são insuficientes para atender à procura.

Barreiras culturais, sociais e institucionais

Culturalmente, a mulher continua a ser vista como principal responsável pela fertilidade da família. Essa pressão social imposta pelo meio, intensifica a expectativa de ter vários filhos, mesmo sem condições financeiras ou emocionais. O receio do julgamento social ou da indiferença da própria família, dificulta ainda mais o acesso a informações e aos serviços de planeamento familiar.

Paralelamente, muitos serviços de saúde não estão preparados para responder às necessidades das utentes. Faltam contraceptivos, há carência de profissionais devidamente capacitados e da realização regular de campanhas educativas. Tais limitações comprometem a capacidade de as mulheres fazerem escolhas seguras e conscientes sobre os seus corpos e sobre si mesmas.

Consequências que afectam gerações

A falta de planeamento familiar tem consequências duradouras. Raparigas engravidam antes da maior idade, muitas vezes sendo forçadas a abandonar a escola. Para as mulheres, não poder planear o número de filhos pode significar enfrentar sobrecarga emocional, física e financeira. As famílias com baixa renda têm dificuldade em garantir o bem-estar geral dos seus filhos, o que afecta directamente na capacidade de prover alimentação, educação e saúde de qualidade.

O direito à escolha

O planeamento familiar é sinónimo de liberdade. O direito de escolher quando e como ser mãe, com segurança, dignidade e apoio, dá a mulher o controlo sobre o seu corpo e o seu tempo. Permite-lhe sonhar, estudar, trabalhar e cuidar da sua família com mais equilíbrio. Escolher planear o número de filhos é um direito.

Falar abertamente sobre planeamento familiar é essencial para garantir mais autonomia e dignidade às mulheres em Angola.

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2 comentários

  1. Falar sobre o planeamento familiar é criar caminho para as futuras gerações. Onde cada mulher tem o direito de fazer uma escolha consciente, sem medo de julgamentos.

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