Comunicóloga de formação, jornalista por paixão e empreendedora por convicção, Júlia Issuma Mbumba é uma mulher multifacetada que tem marcado o panorama da comunicação, cultura e liderança em Angola. Do jornalismo à fotografia, da mentoria cristã ao empreendedorismo, Júlia revela-se como um exemplo de dedicação e coragem, carregando sempre a cultura angolana como guia e inspiração. Nesta entrevista ao portal Mulheres.ao, fala de quem é, do que construiu e dos horizontes que continua a sonhar.
1. Júlia, se tivesse de se apresentar sem falar da sua profissão, apenas como mulher, filha, amiga e ser humano, quem é?
Júlia Issuma Mbumba.: (Risos) Primeiro, sou a Júlia Issuma Baptista Mbumba. Um grande projecto de DEUS, e sua filha amada. A seguir, filha dos meus pais e mamã do Issan. Depois, sou irmã dos meus irmãos. Bom, e depois do meu maior alicerce e suporte, sou amiga dos meus amigos e dou a vida por qualquer ser humano que mereça a minha entrega! Costumo dizer que sou uma pessoa insuportável, mas assim bem doce! Querida, muito prazer: Júlia Issuma Mbumba, Kuya é quem sou!
2. A comunicação entrou cedo na sua vida. O que despertou em si a paixão pelo jornalismo e como sente que esta área moldou a mulher que é hoje?
J.I.M.: Eu sou Comunicação. Através da fala, do gesto, da expressão. Sempre me expressei muito por meio de qualquer coisa. A minha grande paixão sempre foi a televisão. Enquanto as crianças da minha família viam TV, eu produzia conteúdo para ser visto. O meu pai, que já partiu, foi o meu maior telespectador. Foi ele que acreditou que eu seria uma grande comunicóloga. Trabalhar em comunicação foi apenas a manifestação do que já estava dentro de mim desde cedo.
3. Ao longo da sua trajectória foi actriz, apresentadora, jornalista e empreendedora. Se pudesse olhar para trás, que momentos considera como marcos da sua transformação?
J.I.M.: Todos os momentos da minha vida trouxeram o doce e o amargo. Vivi mais transformações com coisas más do que com coisas boas. Mas se a questão for: “O que escolheria ser e fazer de novo?”, a minha resposta seria: tudo! Porque tudo na vida é colaboração para atingirmos o nosso melhor.
4. A fundação da JM-Comunicação e da Revista Ixietu trouxeram consigo uma forte aposta na cultura. O que significa para si dar voz à cultura angolana através destes projectos?
J.I.M.: Quando a minha mãe me chamou Issuma pela primeira vez, ela determinou: vieste à terra para ser admirável. É isso que significa o meu nome. Sempre fui inconformada, gosto de fazer, de transformar, de impactar. Com a Revista Ixietu, procurei cumprir uma lacuna que o jornalismo e a própria cultura angolana deixaram. Continuo a lutar, com fé e esperança, acreditando que melhores dias virão.
5. O seu percurso mostra uma mulher multifacetada, que não teve receio de explorar áreas diferentes como fotografia, marketing digital, gestão e até teatro. O que a moveu a abraçar tantas frentes?
J.I.M.: Continuo a abraçar. Antes de ser multifacetada, sou movida pelo desejo de encontrar o meu lugar ao sol. A minha paixão e perdição é o jornalismo, mas não me limito a isso. Antes de profissional, sou alguém com propósito de vida. Preciso enfrentar muitas coisas para realizar os meus verdadeiros sonhos, e por isso não me canso de caminhar, mesmo quando o caminho exige esforço e entrega.
6. A cultura e a identidade são temas que fala com paixão. Que relação tem com a sua herança cultural e como essa ligação influencia o seu trabalho e os seus projectos?
J.I.M.: A cultura e a identidade são para mim raiz e inspiração constantes. A minha herança cultural é parte de quem sou e precisa de ser expressa. Quando penso no que herdámos, nas histórias e valores que nos foram deixados, sinto responsabilidade e orgulho. Essa ligação dá autenticidade ao meu trabalho e projectos, fazendo-me honrar o passado e contribuir para um futuro mais consciente.
7. Recentemente tornou-se co-autora do livro “Empreendedorismo da Mulher Negra – A Potência“. Como foi a experiência de escrever e partilhar este espaço com outras mulheres?
J.I.M.: Foi uma experiência incrível. Sinto-me lisonjeada por ter sido escolhida e por trabalhar com mulheres de tanta força, garra e altruísmo. Cada uma trazia histórias de superação que me inspiraram. Foi um grande aprendizado, uma bênção dos céus para mim.
8. Para além dos seus negócios, já liderou empresas e instituições em áreas diversas. O que aprendeu nesses contextos de liderança que ainda hoje leva consigo?
J.I.M.: Aprendi que liderança não é impor, mas servir. Seja nas vendas, nas tecnologias ou no aparelho do Estado, percebi que as pessoas são sempre o centro de qualquer processo. Sem pessoas motivadas e respeitadas, nada se sustenta. Aprendi a importância da resiliência, da escuta, da inovação e da responsabilidade diante de decisões que afectam muitas vidas.
9. A mentoria de mulheres e a terapia cristã são hoje parte importante do seu caminho. Como nasceu essa missão e de que forma tem transformado vidas?
J.I.M.: Nasceu do meu propósito de vida: auxiliar mulheres, ajudá-las a resolver crises e catapultá-las para a próxima fase, como um dia aconteceu comigo. O propósito é aquilo que nos queima por dentro. Estou a fazer o que Deus me chamou a fazer, e por isso tem sido bem-sucedido.
10. Consegue identificar um momento em que sentiu claramente que a sua vida estava a alinhar-se com um propósito maior?
J.I.M.: Sim. Percebi que a minha vida não era feita de episódios soltos, mas de peças de um mesmo puzzle. Todas as vitórias e dificuldades prepararam-me para servir e gerar impacto positivo. Desde então vivo com consciência de que nada do que faço é apenas profissão, mas chamado.
11. A fotografia, a arte, o teatro e a escrita são expressões que fazem parte de si. O que cada uma destas linguagens lhe permite dizer que talvez as palavras sozinhas não digam?
J.I.M.: São janelas da minha alma. A fotografia eterniza instantes, o teatro dá-me coragem para viver outras vidas, e a escrita organiza a minha interioridade e dá voz ao que fica escondido. São formas de dizer o indizível e tocar onde a voz não chega.
12. O equilíbrio entre vida pessoal, família, fé, negócios e criatividade é um desafio para qualquer mulher. Como lida com este equilíbrio?
J.I.M.: Não somos super-mulheres, somos reais. Não consigo tudo, por isso estabeleço prioridades e dou o meu melhor ao que é mais importante em cada período.
13. Quais são os sonhos e metas que ainda a mantêm em movimento? Que projectos gostaria de concretizar no futuro próximo?
J.I.M.: Sou uma grande sonhadora. Tenho muitos projectos pessoais e profissionais, mas o primeiro grande sonho é viver em plenitude. Quem me prometeu prosperidade é fiel para cumprir.
14. Ao olhar para a mulher que foi, a que é hoje e a que deseja ser, que mudanças mais a orgulham e que horizontes mais a inspiram?
J.I.M.: Sempre fui radical: quando é para fazer, faço; quando é para mudar, transformo. Mas nos últimos dois anos vivi uma mudança de 360 graus. O que eu suportava, deixei de suportar. O que eu amava, passei a rejeitar. Foi uma transformação profunda e é o meu maior orgulho. Inspira-me saber que os pequenos gestos de hoje constroem grandes caminhos de amanhã.
15. Que mensagem gostaria de deixar para outras mulheres angolanas que procuram inspiração para sonhar, empreender, liderar e transformar as suas realidades?
J.I.M.: Cada mulher é única. Cada uma cai e levanta de forma diferente, sonha e realiza de modo distinto. Não existe receita universal. O que posso dizer é: encontrem-se ou reencontrem-se! O caminho certo surge quando nos descobrimos verdadeiramente.
A história de Júlia Issuma Mbumba é feita de entrega, fé e coragem. Uma mulher que se reinventa, abraça múltiplas paixões e mantém a cultura como raiz de tudo o que faz. Mais do que títulos e cargos, Júlia é exemplo de propósito, autenticidade e inspiração. Que a sua caminhada continue a ecoar e a transformar vidas, lembrando-nos que cada mulher pode e deve ser protagonista da sua própria história.