Num tempo em que as mulheres negras eram silenciadas pela escravidão e pela ausência de direitos, Phillis Wheatley ergueu a voz através da poesia. Tornou-se, ainda no século XVIII, a primeira mulher negra a publicar um livro de poesia nos Estados Unidos, desafiando o preconceito, a ignorância e as correntes do seu tempo.

Da África ao Mundo

Phillis nasceu por volta de 1753, provavelmente na região hoje conhecida como Senegal ou Gâmbia. Ainda criança, foi sequestrada e levada como escrava para Boston, nos Estados Unidos, a bordo de um navio chamado Phillis — nome que, ironicamente, acabaria por marcar a sua identidade.

Comprada por John Wheatley, um comerciante bostoniano, foi entregue como “presente” à sua esposa, Susanna Wheatley. Mas, ao contrário do destino comum às mulheres negras da época, Phillis encontrou naquela casa algo improvável: educação.

Aprendeu a ler e a escrever em inglês em apenas 16 meses, e logo depois mergulhou em textos de latim, grego e literatura clássica, absorvendo o que pôde de um mundo que, até então, lhe tinha negado humanidade.

A menina que escrevia o impossível

Aos 13 anos, Phillis já compunha poemas com tamanha sofisticação que muitos duvidaram da sua autoria. O preconceito era tal que, quando decidiu publicar o seu primeiro livro, precisou da assinatura de dezoito homens brancos que testemunharam a sua capacidade intelectual.

Em 1773, lançou em Londres a obra “Poems on Various Subjects, Religious and Moral”, tornando-se a primeira mulher afrodescendente da história a publicar um livro em língua inglesa. A sua poesia falava de fé, moral, humanidade e liberdade, mas também de algo maior: a dignidade do ser humano.

“Foi a misericórdia que me trouxe da minha terra pagã,
ensinou minha alma a entender que há um Deus, que há um Salvador.”
Phillis Wheatley, “On Being Brought from Africa to America”

Entre o reconhecimento e a resistência

Com o sucesso da obra, Phillis foi recebida em salões literários e chegou a trocar cartas com George Washington, a quem dedicou um poema em 1775. Tornou-se símbolo de resistência e inteligência negra, num mundo que ainda negava à mulher o direito à palavra.

Mas a vida nem sempre correspondeu ao brilho da sua mente. Após a morte dos Wheatley e do seu marido, Phillis mergulhou na pobreza e morreu aos 31 anos, em 1784 — sem nunca deixar de escrever.

Um legado que atravessa séculos

A história de Phillis Wheatley é um grito suave, mas eterno. Ela transformou a dor em arte, o cativeiro em conhecimento e a invisibilidade em legado.
A sua vida prova que a educação é também uma forma de libertação, e que a palavra — quando nasce do coração de uma mulher — pode atravessar séculos.

Hoje, o seu nome figura nos currículos de literatura mundial e nas homenagens a mulheres pioneiras. O seu exemplo inspira artistas, académicas e escritoras negras em todo o mundo, lembrando-nos que a voz feminina, mesmo abafada, sempre encontra um modo de se fazer ouvir.

Phillis Wheatley não foi apenas uma poetisa.
Foi uma mulher que escreveu o seu nome na história —
quando o mundo insistia em apagá-lo.

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