E se nos víssemos normais? Todos os dias leio nas redes sociais, oiço um comentário de alguém, assisto em algum programa de TV alguma dica subtil ou explícita
depreciando as mulheres, logo nós, mulheres angolanas, que somos tradicionalmente a maior força de trabalho dos campos e do comércio informal, que visivelmente
são os maiores sectores de produção nacional.
Claro que há mulheres em vários outros sectores, conheço pedreiras, médicas, mecânicas, professoras, jornalistas e muitas e muitas mais profissionais.
Há um estudo recentemente publicado que diz que:
“Angola é o país com maior número de mulheres empreendedoras segundo um estudo de uma associação global. O estudo, foi feito em 43 países e determinou que mais de metade das mulheres angolanas são empreendedoras. Angola lidera a lista com 51, 1 de mulheres empreendedoras, seguida pelo Panamá com 29,1 e a
Arábia Saudita com 17,7. ” – Fonte RNA
Estas mulheres são reais, são angolanas e andam por aí nas nossas casas, nos nossos bairros, nas nossas ruas, então é ou devia até ser crime, categorizar as mulheres angolanas por causa da sua “suposta” dependência financeira, ou tratá-las com nomes pejorativos.
- E se nós mulheres nos víssemos normais?
E se nós mulheres nos víssemos normais, se não romantizássemos o papel do pai-chefe, marido-chefe, tio-que decide, irmão que sustenta, e olhássemos para a forma como contribuímos para as nossas famílias e sociedade como personagem principal, pois em muitas famílias, a mãe que zunga é a mesma que apanha e a única que sustenta a casa,
a filha que deve obedecer as leis do irmão mais velho, é a mesma que compra a comida e paga o colégio dos mais novos. Somos mesmo o lado mais fraco desta equação, a que precisa de “proteção” quando ficámos nas paragens de táxi sozinhas e só conseguimos chegar em casa a noite?
Quando a mãe que zunga der conta que todos os dias arrisca a sua vida para sustentar a família, e que é necessário muito amor e muita coragem para trazer
pão à mesa todos os dias, essa mãe vai se ver normal e perceber que é o elo mais forte e que não precisa, mas merece respeito por parte daqueles que sustenta.
Merece gratidão e não dor, merece ter o seu papel de ser humana valorizado.
Então mulheres, que tal olharmos mais para nós, talvez sejamos normais, tão ou mais do que quem nos julga.