Em tempos onde a imagem e a palavra ganham contornos cada vez mais poderosos, Nark Luenzi surge como uma artista que não apenas cria, mas provoca, educa e transforma. Com uma carreira multifacetada e um percurso construído com coragem, sensibilidade e ousadia, a jovem angolana tem deixado uma marca irreversível no universo da arte visual, do cinema e do activismo cultural.
Uma voz que nasceu da escrita
Nascida em Luanda, em 1998, com o nome Nazaré Pedro Gaspar, a agora conhecida Nark Luenzi começou por escrever antes de filmar. A sua primeira expressão artística foi a poesia, com presença na antologia “Entre o Sono e o Sonho”, Vol. XI, publicada pela Chiado Editora em 2019. O poder das palavras, no entanto, foi apenas o início.
A escrita levou-a à imagem. Em 2020, Nark transita para as artes visuais e o cinema, combinando os dois universos de forma intuitiva e provocadora. A câmara passou a ser também a sua caneta. As imagens, as suas metáforas visuais.
Cinema e arte com identidade africana
Com uma formação em Film and TV Production pela Universidade Nacional da Zâmbia e passagem pela Multichoice Talent Factory, Nark tem trabalhado com produtoras de prestígio como a Geração 80 (Angola) e a Zambezi Magic (Zâmbia). O seu olhar artístico atravessa fronteiras e colaborações.
No cinema, destacou-se com a colaboração na curta-metragem “Lola Mami”, vencedora do prémio de Melhor Curta-Metragem no Unitel Angola Movie 2022, e com “Teka”, realizada por si. Participou ainda em longas-metragens como “The 11th Commandment” e “MFUKAZI”, ambas nomeadas para os Africa Magic Viewer’s Choice Awards.
Mas não é apenas nos festivais que a sua arte ecoa. As suas obras já marcaram presença em espaços como a Through The Window Gallery (Turquia), a Hangar Gallery (Portugal), o Centro Cultural Brasil Angola, entre outros. Em todas as suas obras, o corpo, a negritude, o feminino e o social atravessam o ecrã ou a tela.
O poder da representatividade e do activismo cultural
Num mundo onde ser mulher, jovem e africana no audiovisual ainda é um desafio, Nark Luenzi não espera por espaço – ela cria-o. E não cria só para si. Em 2023, fundou o Nkentu, um colectivo artístico e educacional com foco em empoderar mulheres no mercado digital e audiovisual angolano.
Esse é, talvez, o aspecto mais poderoso do seu trabalho: não se trata apenas de estética, mas de ética. De responsabilidade. De transformação colectiva.
Direcção artística que é linguagem e identidade
A sua assinatura estética é visível também na direcção artística de videoclipes como “Batuko”, da cantora Aline Frazão, ou “Tem Calma”, do rapper português VALETE. Em cada trabalho, uma preocupação com a forma e o conteúdo, com o olhar e com a narrativa. Uma busca por tornar visível o que tantas vezes é invisibilizado.
Nark não se limita a dirigir imagens. Ela dirige mensagens, emoções e possibilidades. Com a sua linguagem visual, tem desafiado os cânones tradicionais da arte africana contemporânea.
Um futuro onde o cinema e a arte educam
Mais do que prémios, festivais e exposições, o propósito de Nark Luenzi é claro: formar novas lideranças no continente. Quer continuar a ensinar, a provocar reflexões e a colaborar com quem, como ela, acredita que a arte pode ser uma ferramenta de revolução social.
Ela acredita que uma imagem pode ser uma semente. Uma história pode ser um espelho. E uma mulher, com uma câmara na mão, pode ser um farol para milhares de outras.