Por: MONA KISOLA DYA NZAMBI
Estar em África, mas carregar na mente e no coração conceitos ocidentais, é a realidade de muitas mulheres africanas. Essa dicotomia entre a terra que as abriga e os valores que as guiam gera uma profunda crise de identidade. Mulheres que não celebram África, que não reconhecem nem abraçam as próprias raízes, vivem à sombra de uma cultura irreal. Isso não é uma questão de preferência ou pessoalidade. É claramente um reflexo de mentes cauterizadas por uma doutrina esclavagista que, ironicamente, nós mesmas perpectuamos.
É vergonhoso uma africana, na sua essência e existência, rejeitar a sua própria identidade. Infelizmente, a realidade pressupõe que, a internalização dos valores ocidentais, acabem por nos levar ao desprezo da própria cultura e história. A real manifestação de uma consciência alienada, de uma mente colonizada, onde a superioridade do “outro” é constantemente afirmada em detrimento do “nós”.
O mais doloroso é reconhecer que os maiores detractores das mulheres africanas são, frequentemente, elas mesmas. É comum culpar o colono, o estrangeiro, pelo estado actual “da coisa”. Entretanto, o mais difícil está em aceitar que, a verdadeira prisão está na nossa mente. A maior luta que enfrentamos não é contra forças externas, mas contra nós mesmas. A nossa consciência, ou a falta dela, é a nossa verdadeira e maior inimiga.
Mulheres africanas que vivem com uma mente colonizada perpectuam um ciclo de auto-desvalorização e submissão e carregam consigo as cicatrizes de uma história de exploração, e muito mais, a própria responsabilidade de romper com essa narrativa. O verdadeiro empoderamento de que muito se prega hoje em dia, vem da aceitação e celebração de nossa identidade, cultura, da nossa história.
A solução não reside na negação do contacto com outras culturas, coisas e pessoas. Está de facto no fortalecimento do senso de identidade e orgulho as raízes. É fundamental que nós, mulheres africanas vejamos valor em nós mesmas e na nossa herança. Sem esse reconhecimento, é impossível curarmo-nos das feridas deixadas pelos anos de opressão e auto-negligência.
Portanto, a pergunta “E basta?” deve ser respondida com um despertar de consciências, uma rejeição da mentalidade colonizada e uma afirmação orgulhosa da identidade africana. A verdadeira liberdade está na mente, e a verdadeira revolução começa com a autoconsciência.