Numa sociedade que se transforma a um ritmo acelerado, um fenómeno discreto mas devastador cresce nas sombras da vida familiar: o abandono afectivo de mulheres idosas. Mulheres que, antes da idade lhes roubar o vigor, foram o pilar das famílias, a base de sustentação emocional, os rostos do cuidado. Hoje, muitas vivem o peso do esquecimento.
Estas mulheres, que ensinaram sem escola e criaram gerações com entrega e sacrifício, esperam, agora, por uma chamada telefónica, por um abraço de um neto, ou apenas por alguém que as escute sem pressa. Em muitas casas, foram transformadas em figuras quase invisíveis, lembradas apenas quando há necessidade, ignoradas no quotidiano.
A presença silenciosa dessas mulheres denuncia uma sociedade que ainda não soube criar espaços de dignidade e afecto para a terceira idade. A falta de programas sociais específicos, a escassez de espaços de lazer inclusivos e a ausência de políticas familiares tornam mais difícil o envelhecimento com qualidade de vida.
As causas do desamparo
O actual cenário económico e social, marcado por longas jornadas laborais, trânsito caótico e exigências crescentes em todas as áreas, tem reduzido drasticamente o tempo dedicado às relações interpessoais. Mas o desamparo não se explica apenas pelo ritmo moderno. Ele também está enraizado numa herança cultural que normalizou a mulher cuidadora como figura secundária, esquecível.
Mulheres que passaram a vida a servir os outros, anulando-se, acabam por envelhecer sem rede de apoio, sem espaço para serem cuidadas. Muitas vezes, não se trata de carência material, mas sim de ausência emocional de presença, escuta e afecto.
O que envelhece, o que permanece
Apesar das rugas e dos cabelos grisalhos, estas mulheres continuam a sentir, a sonhar, a desejar companhia. Querem ser ouvidas com atenção, valorizadas pelo que ainda são: mães, avós, mulheres com história e voz. O que pedem não são grandes gestos, mas sim gestos verdadeiros. Um olhar. Uma conversa. Uma visita. Uma escuta.
Num tempo em que tudo parece poder ser substituído por tecnologia, nada substituirá o amor e a dedicação que estas mulheres ofereceram. E é responsabilidade colectiva garantir que elas não sejam esquecidas.
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