Trabalhar fora, ser mãe, estar ausente – e mesmo assim, amar profundamente.
Esta é a realidade de milhares de mulheres angolanas que saem cedo de casa, enfrentam longas horas de trabalho, trânsito, exigências e ainda chegam a casa com a alma dividida entre o cansaço e a vontade de estar ali, inteira, para os filhos.
É um equilíbrio difícil. Uma corda esticada entre a necessidade de garantir o sustento, a vontade de se realizar enquanto mulher, e o medo constante de não estar a ser suficiente como mãe.
Os filhos sentem. A ausência tem cheiro, tom e silêncio. Às vezes, manifesta-se num “mãe, hoje não estiveste comigo” dito com doçura. Outras vezes, em birras, afastamentos ou numa carência difícil de nomear. E a culpa instala-se.
Mas há uma verdade que precisa de ser dita, com carinho e firmeza:
trabalhar fora não te torna menos mãe.
O teu amor não se mede pelas horas que passas em casa, mas pela forma como cuidas, escutas, estás presente – mesmo na ausência.
É importante compreender que a distância física pode, sim, provocar alguns efeitos nos filhos, sobretudo quando não há um vínculo afectivo consistente. As crianças podem sentir-se mais inseguras, mais carentes, mais fechadas. Mas também podem desenvolver autonomia, sensibilidade e um profundo sentido de admiração pela mãe que luta todos os dias.
Tudo depende de como se constrói a presença.
E a presença não é só estar – é fazer parte.
É escutar. É criar rotinas seguras.
É saber que, mesmo depois de um dia longo, o colo continua lá – mesmo que seja cansado.
Algumas estratégias simples podem fortalecer o vínculo, mesmo quando o tempo é curto:
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Ter um momento só vosso, ainda que de 10 minutos por dia. Pode ser uma conversa antes de dormir, um café partilhado ao fim de semana, uma pergunta sincera no final do dia: “Como te sentiste hoje?”
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Contar-lhes sobre o teu dia também. Mostrar que és humana, que trabalhas porque isso é importante para ti, para eles, para a casa.
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Olhar nos olhos. Ouvir com atenção verdadeira. Guardar o telemóvel quando eles falam.
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Pedir desculpa quando não consegues estar como gostarias. Os filhos não precisam de mães perfeitas — precisam de mães reais.
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E sobretudo, confiar que estás a fazer o teu melhor. Porque estás.
O equilíbrio possível
Não estás a falhar. Estás a amar da forma que a tua realidade permite. E isso merece ser reconhecido.
No mulheres.ao, acreditamos em maternidades possíveis, plurais, conscientes. E sabemos que cada mãe encontra o seu jeito de estar – com coragem, com erros, com presença, mesmo na ausência.
Eles aprendem contigo o valor do esforço, da autonomia, da independência financeira e da construção de sonhos. E isso é poderoso. Não estás a falhar. Estás a tentar. E isso, por si só, já é uma forma de amar.
És mãe e trabalhas fora o dia todo? Como geres a tua ausência e presença? Partilha a tua experiência com outras mulheres – escreve para info@mulheres.ao ou marca @mulheres.ao nas tuas partilhas.
1 comentário
O amor de mãe está em cada tentativa, em cada ‘eu te amo’ dito com os olhos cansados, em cada esforço para ser presença mesmo quando o tempo não ajuda. Mães assim não são perfeitas — são reais e humanas, e é nisso que mora a grandeza delas.