A maternidade continua a ser associada de forma quase indissociável à identidade da mulher, o tema da infertilidade permanece envolto num manto de silêncio, desconforto e julgamento. Para muitas mulheres, não ter filhos é viver sob uma constante cobrança social, marcada por perguntas invasivas e olhares carregados de expectativa ou compaixão disfarçada.

E o filho, não vem já?” – esta pergunta, aparentemente inocente, é repetida em encontros de família, filas de supermercado e conversas informais, ignorando a sua carga emocional. Para quem a escuta, é como reviver feridas profundas. Algumas mulheres optam por afastar-se de eventos sociais; outras limitam o contacto com pessoas queridas. Não por rancor, mas por protecção emocional.

Segundo um relatório das Nações Unidas, Angola ocupa o 4.º lugar entre os países com maior taxa de fertilidade do mundo. Contudo, esta estatística não reflecte a realidade de milhares de mulheres que convivem com a infertilidade. Apenas entre 2020 e 2022, o Hospital Geral de Benguela registou mais de 170 casos de mulheres, com idades entre os 21 e os 35 anos, a procurar ajuda por dificuldades em engravidar. Um número significativo num sistema de saúde que ainda carece de exames acessíveis, apoio especializado e políticas públicas adequadas.

Estigma e solidão: o impacto invisível

O peso social da infertilidade vai além da ausência de filhos. Afecta a saúde mental, o bem-estar emocional e a autoestima feminina. Há mulheres que choram sozinhas, que enfrentam noites em claro, que se submetem a tratamentos exaustivos sem garantias de sucesso. Muitas vezes, sem sequer terem com quem partilhar as suas dores.

A sociedade, por sua vez, continua a exigir que a mulher se realize pela maternidade. Esta visão reducionista ignora as múltiplas dimensões do feminino: trabalhar, cuidar, sonhar, liderar, decidir, tudo isso também é ser mulher. E ser mulher deve incluir o direito de não conseguir ou de não querer ter filhos, sem que isso implique julgamento ou exclusão.

Precisamos falar com mais empatia

Ainda hoje, falar de infertilidade é arriscar-se à incompreensão. Muitas mulheres preferem calar-se para evitar os olhares inquisitivos, os comentários velados, ou mesmo a piedade. Mas esse silêncio colectivo precisa ser quebrado. É urgente criar espaços de conversa, empatia e informação, para que esta realidade deixe de ser tabu.

O valor da mulher não reside na sua função biológica. Reduzir o feminino à capacidade de gerar é perpetuar uma visão antiquada, que desrespeita as diversas formas de existir, de ser, de construir uma vida.

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