Há histórias que não cabem apenas num palco iluminado. Histórias que, mesmo sob coroas e vestidos de gala, carregam profundidade, verdade e um apelo silencioso por mudança.
A de Maria Cunha, coroada Miss Angola Universo 2025, é uma dessas histórias.​

Com apenas 21 anos, Maria brilhou na passarela, sim, mas foi o que trouxe no coração que arrebatou o público e o júri. Natural da Maianga, em Luanda, estudante de Relações Internacionais e defensora convicta de uma sociedade mais inclusiva, Maria não se apresentou apenas como uma candidata à coroa: apresentou-se como uma ponte entre mundos que raramente se tocam.

Um projecto com voz… mesmo quando não há som

O seu projecto social chama-se “Raparigas Surdas e as Suas Valências”, e nasce de um gesto de empatia e escuta verdadeira. Maria conta que conviveu de perto com uma jovem surda durante um período marcante da sua adolescência. A relação entre ambas ensinou-lhe algo que nunca mais esqueceu:

“Há silêncio que fala, e há olhares que dizem mais do que palavras.”​

Foi a partir desse encontro que nasceu o desejo de dar visibilidade a meninas e mulheres com deficiência auditiva, muitas vezes excluídas das conversas, das oportunidades e do acesso básico à informação. O seu projecto visa capacitar raparigas surdas em Angola, promover o ensino da linguagem gestual e sensibilizar a sociedade para uma inclusão que não seja apenas simbólica.

Mais do que uma coroa, uma missão

A gala de coroação, realizada no dia 30 de Novembro de 2024 no Clube S, em Luanda, teve como tema “A Mulher Angolana e os Seus Mil Ofícios”. Maria Cunha foi a grande vencedora entre 19 candidatas, num evento que contou com figuras de peso como a Primeira-Dama Ana Dias Lourenço e a inesquecível Leila Lopes.​

Além da elegância e do sorriso sereno, há uma história de superação. Maria revelou ter sido vítima de abuso sexual na adolescência – uma dor profunda, que escolheu transformar em força. Em vez do silêncio, escolheu a palavra. Em vez da vergonha, a acção. E é essa coragem que hoje leva consigo para o palco internacional do Miss Universo 2025, onde representará Angola na Tailândia, em Novembro.

As damas de honor que também brilham

A gala também destacou outras jovens talentosas. O título de Primeira Dama de Honor foi atribuído a Kendra Cordeiro, representante da província de Benguela. A Segunda Dama de Honor foi Maria da Silva, da província do Huambo. Ambas demonstraram carisma, inteligência e compromisso com causas sociais, reforçando o brilho do evento.

Representar mais do que um país

Maria não leva apenas um título. Leva consigo as vozes abafadas, os corpos silenciados, as histórias que ainda não foram contadas. A sua beleza é visível, mas o que a torna memorável é a presença, a intenção e o propósito com que pisa cada lugar que ocupa.​

Em tempos em que se questiona a relevância dos concursos de beleza, Maria Cunha mostra-nos que quando há consciência, representatividade e acção, a passarela pode ser um lugar de transformação.

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