O etarismo é um tipo de discriminação que se manifesta pela idade e que, em Angola, permanece pouco debatido. Contudo, os seus efeitos são claros: limita a vida profissional, social e até a saúde das mulheres.
O silêncio sobre o tema
Embora seja uma forma de violência invisível, o etarismo reforça desigualdades já existentes. Em muitos casos, mulheres mais velhas enfrentam barreiras para aceder a empregos, cargos de liderança, formações e até cuidados de saúde. A ausência de debate público sobre o assunto agrava a exclusão.
Envelhecimento em África: um desafio para as mulheres
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a população idosa da região da África Subsaariana aumentará para 67 milhões em 2025, podendo alcançar 163 milhões em 2050 (OMS África). O envelhecimento acelerado exige novos modelos de inclusão, mas o etarismo pode constituir uma barreira.
A OMS alerta ainda que as mulheres mais velhas sofrem agravadamente, por acumularem discriminações baseadas no género e na idade. No acesso à saúde, por exemplo, persistem preconceitos quanto à utilidade social da mulher após determinada idade, condicionando os cuidados adequados de que pode necessitar.
Etarismo e género: a penalização duplicada
Estudos feitos pela HelpAge International, em colaboração com a OMS, demonstram que as mulheres idosas em África, estão sujeitas a dupla discriminação: por género e por idade (HelpAge International). Isto traduz-se em exclusão do mercado de trabalho, maior vulnerabilidade à pobreza e invisibilidade nos espaços de decisão.
Em Angola, essa realidade cruza-se com fragilidades estruturais dos sistemas de emprego e de protecção social. Muitas mulheres, a partir dos 40 anos, enfrentam dificuldades acrescidas em manter postos de trabalho, aceder a cargos de liderança ou beneficiar de acções de formação.
Realidade angolana: ausência de dados e políticas
O Ministério da Saúde (MISAU) não apresenta dados sistematizados sobre etarismo, mas reconhece em relatórios públicos desafios no atendimento a grupos vulneráveis, incluindo pessoas idosas.
A Organização da Mulher Angolana (OMA), no âmbito das suas actividades, realiza encontros com temas que reforçam a necessidade de criação de políticas que contemplem a integração social e económica das mulheres. Segundo a organização, a falta de oportunidades específicas para mulheres mais velhas reforça o risco de dependência económica e exclusão (OMA participa em encontro com mulheres.
Impactos sociais e profissionais
- Vida profissional: mulheres mais velhas são frequentemente preteridas em processos de recrutamento e promoção, em favor de perfis mais jovens. Essa exclusão afecta a sustentabilidade económica das famílias, num país onde muitas mulheres continuam a ser principais provedoras.
- Vida social: o etarismo limita a participação comunitária, a vida associativa e o acesso a espaços de decisão, diminuindo a representatividade das mulheres idosas.
- Saúde: a discriminação etária manifesta-se no acesso tardio a cuidados, na ausência de programas de prevenção específicos e no menor investimento em saúde mental para pessoas idosas.
Uma realidade que pode ser transformada através de:
- Inserção do tema do etarismo nas políticas públicas de género e envelhecimento, alinhando Angola com a Década do Envelhecimento Saudável 2021-2030 da OMS.
- Formação de profissionais de saúde e empregadores para eliminar preconceitos relacionados com idade e género.
- Realização de campanhas de sensibilização nacionais sobre envelhecimento digno e o contributo das mulheres mais velhas para a sociedade.
- Parcerias institucionais entre o ministério de tutela e organizações nacionais e internacionais para recolha de dados, criação de programas de apoio e visibilidade da problemática.
O etarismo põe em causa a dignidade e o pleno exercício da cidadania da mulher. O envelhecimento não pode significar o início de uma jornada de silenciamento ou de exclusão; a integração activa das mulheres em todas as fases da vida é fundamental para a coesão social e para o desenvolvimento do país.
Quer iniciar o debate sobre este assunto?
Partilhe este artigo e contribua para o envelhecimento digno de todas as mulheres.