Para muitas pessoas, a oralidade é um território de desafio. A voz que falha, o corpo que hesita, as palavras que, quando chegam, já vêm atrasadas ou cruas demais. Falar em público, ou até em conversas íntimas, pode tornar-se um campo onde as emoções atropelam as intenções, e os silêncios dizem mais do que se queria esconder.
Nesses momentos, a escrita surge como alternativa. Não como fuga — mas como espaço. Um lugar onde é possível respirar antes de responder. Pensar antes de reagir. Escrever permite elaborar, pausar, apagar e recomeçar. Dá tempo, onde a vida exige pressa. E oferece voz, mesmo quando o som falha.
Ao contrário do impulso, escrever é escuta. É um processo onde o respeito por si e pelos outros molda cada frase. O papel — ou o ecrã — torna-se um espelho, onde pensamentos ganham forma, dores encontram nome, e ideias dispersas organizam-se em linhas com princípio, meio e continuidade.
Há quem diga que escrever demais afasta o leitor. Que textos longos são difíceis de digerir. Mas por detrás de cada parágrafo extenso, pode estar alguém a juntar os próprios pedaços. A escrever para não transbordar. A transformar o caos em sentido, a dúvida em ponto final, o medo em recomeço.
Escrever também é um acto de liberdade. É onde se pode ser frágil sem interrupções, mudar de opinião sem culpa, e voltar atrás sem que isso signifique fracasso. É onde a raiva pode virar reflexão. Onde o choro silencioso vira testemunho. Onde o riso contido vira memória.
A escrita é, muitas vezes, o lugar mais seguro que existe para quem se sente desconfortável a falar. É o lugar onde as palavras não cortam — colam. Onde não ferem — costuram. Onde a culpa é entendida, a vergonha é suavizada, e o silêncio encontra tradução.
E mesmo sem saber quem vai ler, há sempre a possibilidade de que uma palavra, apenas uma, encontre eco no coração de alguém. Talvez essa seja a força mais bonita da escrita: tocar sem presença, acolher sem contacto, salvar sem alarde.
Escrever, para alguns, é trabalho. Para outros, vocação. Mas para muitos, é simplesmente sobrevivência emocional. Uma forma de amar em silêncio — e de continuar inteira.
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1 comentário
hoje no Dia do Livro, essa leitura trás a referência de como a escrita é importante e impacta as nossas vidas de diversas formas.