Tens saúde. Tens filhos. Tens trabalho. Tens uma casa. Tens tudo.

Esta é, muitas vezes, a narrativa que se repete no ouvido de milhares de mulheres, como se a soma das bênçãos bastasse para anular qualquer cansaço. Mas a verdade é que muitas de nós estão exaustas. Não apenas fisicamente, mas num cansaço silencioso que mora por dentro – num lugar onde nem sempre conseguimos chegar com palavras.

Vivemos tempos em que a mulher moderna se sente chamada a ser tudo – produtiva no trabalho, presente em casa, impecável no aspecto, atenta à saúde mental dos filhos, disponível emocionalmente para todos… excepto para si.

E quando ousamos dizer “não estou bem”, o mundo responde com uma lista de razões para agradecer, como se a gratidão e o cansaço fossem mutuamente exclusivos.

A exaustão feminina, hoje, não vem apenas da falta. Vem, sobretudo, do excesso.
Excesso de tarefas invisíveis. Excesso de exigências internas e externas. Excesso de expectativas – sobre como devemos ser, comportar-nos, equilibrar tudo sem perder a doçura.

É um esgotamento que muitas vezes não se nota. Porque continuamos a cumprir. A funcionar. A sorrir. Mas por dentro, há um sistema em colapso.

É importante nomear esta exaustão. Validá-la. E, sobretudo, parar de a normalizar.

Podes amar profundamente os teus filhos e, mesmo assim, desejar um tempo só para ti.
Podes ter um emprego estável e sentir que estás a perder o sentido.
Podes estar num relacionamento saudável e, ainda assim, sentir solidão.
Podes agradecer tudo o que tens – e continuar cansada.

Reconhecer isso não é fraqueza. É maturidade emocional.
É o primeiro passo para romper com um ciclo de auto-cobrança silenciosa que desgasta e adoece.

Cuidar de ti não é egoísmo. É responsabilidade.

Porque ninguém se sustenta eternamente a funcionar apenas por fora, quando por dentro está a desmoronar.

 

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3 comentários

  1. Paula
    Pelo que escreveste vejo que cresceste muito e que começas a dar-me razão em algumas coisas q temos conversando. Vamos cuidar de nós.

    Um abraço

  2. Esse texto faz-nos refletir, será que viemos ao mundo apenas para servir? Que Deus nos cuide. Bem haja, Paula.

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Consultora de gestão de profissão com mais de 10 anos de experiência. Mãe de 3 filhas, uma delas com uma jornada de maternidade atípica. Chocolatra, viciada em jogos no telemóvel e apaixonada por momentos em família. A vida, para mim, é como um quebra-cabeças em constante transformação: cada peça, mesmo as mais difíceis de encaixar, contribui para o quadro maior. E, por mais que a jornada nos desafie, é nas curvas mais inesperadas que encontramos o verdadeiro propósito. Acredito que o maior poder está em saber adaptar-se, reiniciar e seguir em frente, com coragem, sem medo de recomeçar quantas vezes forem necessárias.