A menarca, ou primeira menstruação, é uma experiência marcante na vida de uma rapariga. No entanto, para muitas, continua envolta num silêncio social que atravessa gerações. É uma transição biológica que, em vez de ser acolhida com naturalidade, é muitas vezes acompanhada de confusão, desconforto e ausência de diálogo.

Enquanto recordamos com facilidade o primeiro dia de aulas ou a primeira queda de bicicleta, a primeira menstruação permanece, para muitas, como uma memória solitária. Aos 12 anos, ou até antes, a puberdade apresenta-se com alterações físicas e emocionais intensas e com ela, a percepção de que o corpo deixa de ser apenas infantil e passa a ser alvo de vigilância e julgamentos externos.

Este silêncio tem raízes profundas. Em vários contextos, falar de menstruação continua a ser tabu. Mães e pais que não tiveram acesso a educação menstrual raramente encontram as palavras certas para partilhar com as filhas. Em vez disso, repetem-se ausências e inseguranças, não por negligência, mas por falta de ferramentas e referências.

Durante décadas, a menstruação foi associada à impureza, à vergonha ou ao perigo. O que deveria ser um sinal de vitalidade e crescimento passou a ser tratado como fraqueza ou motivo de reserva. O corpo feminino tornou-se espaço de censura e vigilância, quando na verdade exige compreensão, cuidado e respeito.

Hoje, há sinais de mudança. A educação menstrual está a conquistar espaço nas escolas, nas redes sociais, nas consultas médicas e nas conversas familiares. Profissionais de saúde, activistas e educadoras trabalham para explicar, com empatia e clareza, o que acontece ao corpo, à mente e às emoções durante esta fase.

É essencial transmitir que sentir medo, vergonha ou dúvida é natural, mas que não se está sozinha. Explicar que as alterações de humor fazem parte do ciclo biológico. Que conhecer o próprio corpo é um direito e um passo importante para a autonomia.

Há que criar espaços de conversa, onde as raparigas possam ser ouvidas e orientadas sem juízos nem pressas. Conversar sobre menstruação é falar sobre saúde, dignidade e direitos. É também uma oportunidade para rever práticas familiares, escolares e sociais que continuam a perpetuar desinformação e estigmas.

O passado pode ter sido silencioso, mas o presente pode ser diferente. E o futuro, com informação, empatia e escuta, pode ser mais leve para quem está a crescer.

Como foi a tua primeira menstruação? Que mudanças gostarias de ver para as novas gerações? Partilha a tua visão nos comentários e sugere temas que devemos abordar no Mulheres.ao.

 

4 comentários

  1. A minha primeira menstruação foi tranquila. Lembro-me da minha mãe me dizer aquela frase típica: “Agora já podes engravidar.” Não houve uma grande conversa nem explicações profundas, mas também não foi um momento difícil. Fui percebendo as coisas com alguma naturalidade, embora muitas dúvidas tenham ficado por esclarecer.

    Hoje, como mãe, dou muito mais valor à importância de falar sobre o corpo e as mudanças que chegam com a puberdade. Faço questão de criar um espaço seguro com as minhas filhas, onde possam fazer perguntas, partilhar o que sentem e perceber que tudo o que acontece com o corpo merece ser entendido e respeitado.

    Quero que cresçam com confiança, que saibam que a menstruação não é motivo de vergonha, mas parte de quem somos. Que tenham acesso à informação que eu própria não tive em detalhe.

    Obrigada por este texto tão necessário. Que continue a abrir caminho para que o corpo feminino seja respeitado, compreendido e celebrado desde cedo. 💜

  2. Amei de mais. Muito obrigada Doutora Dorotéia. Acredito que todos deveriam ler principalmente antes de passar pela primeira menstruação 🩸

  3. Antes parabenizo a Dra. Doroteia Dia lunda com sua abordagem quanto ao tema, que certa de forma ainda tem sido tabu para muitas famílias e jovens.
    vejo muita transparência, liberdade e profundidade ao levar a comunidade Feminina e não só aos Homens também de forma a termos consciência e estarmos a altura para auxiliar sem receios assuntos do gênero as nossas futuras filhas. Almejo continuar aprendendo.

    Parabéns a Mulher.ao por terem uma mente como a Dra. DDL.

    Atenciosamente;
    Paulo João.

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