A menstruação, fenómeno biológico natural que acompanha mulheres e pessoas que menstruam ao longo de 400 a 500 ciclos durante a vida, continua a ser rodeada de silêncio, preconceito e exclusão. Para mais de 500 milhões de meninas e mulheres no mundo, segundo dados da ONU, menstruar não é apenas um desafio: é um obstáculo à saúde, à educação e à dignidade.
O que é a pobreza menstrual?
A pobreza menstrual vai muito além da falta de absorventes. Trata-se de uma condição marcada pela desigualdade social, económica e de género, que se manifesta na ausência de acesso a produtos menstruais, água potável, saneamento básico, informação e cuidados de saúde.
Quando não têm alternativas seguras, muitas recorrem a meios improvisados, como panos velhos, jornais ou até miolo de pão, práticas que aumentam o risco de infecções graves e até Síndrome do Choque Tóxico.
Os impactos são devastadores:
- Saúde física: irritações, infecções e complicações médicas.
- Saúde emocional: baixa autoestima, insegurança e estresse.
- Educação: uma em cada dez meninas no mundo falta à escola durante a menstruação.
- Desigualdade social: reforça exclusões históricas de género, classe e raça.
Desde 2014, a ONU reconhece a higiene menstrual como uma questão de saúde pública e de direitos humanos.



Menstruação: ainda é um tabu?
Apesar dos avanços, a menstruação continua a ser encarada como algo “sujo” ou “impuro” em muitas culturas. Este estigma perpetua preconceitos, reforça desigualdades e impede o diálogo aberto sobre saúde menstrual.
Historicamente, práticas de exclusão foram comuns em diferentes países, desde o isolamento em cabanas no Nepal até tabus alimentares e sociais em várias comunidades. Hoje, o silêncio persiste, dificultando a construção de políticas públicas e a quebra de preconceitos.
Direitos menstruais fundamentais
Garantir dignidade menstrual é assegurar saúde, igualdade e cidadania plena. Entre os direitos básicos estão:
- Direito à saúde e higiene: acesso a absorventes, coletores menstruais, água potável, sabão e banheiros adequados.
- Direito à educação: inclusão de conteúdos sobre menstruação e sexualidade nas escolas e garantia de frequência escolar durante o período.
- Direito à igualdade: combate ao estigma e promoção de oportunidades iguais no trabalho e na sociedade.
- Direito ao trabalho digno: acesso a banheiros apropriados e políticas laborais sensíveis às necessidades do ciclo menstrual.
- Direito à dignidade e privacidade: possibilidade de cuidar da higiene íntima com segurança e respeito.
- Direito à informação e escolha: acesso a informação científica e liberdade para escolher o produto menstrual mais adequado, sem barreiras económicas ou culturais.
Um direito humano, não um privilégio
A pobreza menstrual é um problema de saúde, de educação, de direitos humanos e de justiça social. Combater este fenómeno é essencial para garantir igualdade de oportunidades, quebrar tabus históricos e assegurar que menstruar nunca seja visto como um privilégio, mas sim como um direito humano básico.