No dia em que visitei a Comarca Feminina de Viana em trabalho, fui invadida por um turbilhão de emoções. Nunca imaginei que admiração e indignação pudessem coexistir de forma tão intensa, mas todas elas estavam, a moldar cada segundo daquela experiência que me marcou profundamente.
Cada rosto que me olhou tinha uma história gravada, uma narrativa de resiliência que desafia o que imaginamos ser possível. Apesar das circunstâncias, o brilho da esperança permanece vivo nos olhos daquelas mulheres. Era uma luz alimentada por pequenos gestos de paciência, pelo apoio mútuo e por uma força interior que as mantinha de pé. Cada uma carregava em si um lembrete poderoso: mesmo nas condições mais adversas, o futuro pode ser reescrito.
No entanto, havia também indignação. Era impossível ignorar a dualidade que enfrentavam. De um lado, o desejo ardente de liberdade; do outro, o medo do desconhecido. O que lhes esperava lá fora? Haveria uma sociedade disposta a oferecer uma segunda oportunidade ou apenas um ciclo de julgamentos e marginalização?
O que mais me inquietou foi perceber como essa incerteza pairava como uma sombra sobre muitas delas. A vontade de sair e recomeçar era clara, mas faltavam respostas. Como poderiam reconstruir as suas vidas sem acessar programas que as preparassem para a reintegração? Sem formação, sem apoio psicológico e sem oportunidades concretas, como poderiam transformar a esperança em realidade?
Saí daquela visita profundamente tocada e transformada. Admirei a força daquelas mulheres que, contra todas as probabilidades, mantinham viva a chama de um amanhã melhor. Mas também reconheci a responsabilidade que temos como sociedade de criar pontes para um futuro mais digno e inclusivo.
Esta experiência foi mais do que um momento de reflexão – foi um apelo à acção. Precisamos de investir em educação, capacitação profissional e no apoio psicológico necessário para que estas mulheres não apenas sonhem, mas se concretizem.
A esperança só é realmente poderosa quando tem um caminho para se materializar. E é nosso dever abrir as portas, criar as oportunidades e lutar para que cada mulher tenha a chance de reescrever seu destino. Que esta história nos inspire a fazer mais, a fazer melhor, porque todos merecem um futuro onde a dignidade e a promessa de um recomeço sejam reais.
Um texto lindo escrito pela Angela Mota do Club Del