Num mundo marcado por solidão, perdas e necessidade de conforto emocional, surgem fenómenos que, à primeira vista, parecem inofensivos – mas que despertam cada vez mais debates. Um deles é o uso dos chamados bebés reborn: bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos com detalhes impressionantes. Em Angola, o tema ainda é pouco discutido, mas já ganha espaço nas redes sociais e nas conversas entre mulheres.
O que são, afinal, os bebés reborn?
Os bebés reborn são bonecos feitos artesanalmente, com pele texturizada, peso semelhante ao de um bebé real e, por vezes, até cheiro de talco ou recém-nascido. Muitas pessoas compram-nos como peças de arte, outras como objecto de colecção. Mas há também quem os trate como se fossem filhos reais.
Quando o vínculo passa do simbólico para o afectivo
Especialistas apontam que, em contextos terapêuticos, o uso destes bonecos pode ser legítimo e útil:
- No luto perinatal ou gestacional, podem ajudar mulheres a processar emocionalmente uma perda profunda.
- Em casos de depressão, ansiedade ou solidão extrema, oferecem uma sensação de companhia e cuidado.
- Em pacientes com Alzheimer, têm sido usados para estimular memórias afectivas e reacções emocionais positivas.
Contudo, é preciso atenção. Quando a relação ultrapassa o simbólico e se torna substituta de vínculos reais, entra-se num campo delicado. O apego excessivo pode indicar dificuldades psíquicas mais profundas, como isolamento social, episódios de dissociação ou dependência afectiva.
O alerta dos profissionais de saúde mental
Segundo a psicóloga Carla Campos, “é essencial reconhecer quando o boneco deixa de ser uma ferramenta terapêutica e passa a interferir na autonomia emocional e nas relações sociais de quem o possui”.
Se a dedicação ao boneco afecta rotinas, limita a vida profissional, social ou familiar, é um sinal de alerta. Nestes casos, procurar ajuda psicológica é fundamental.
O que este fenómeno diz sobre o nosso tempo?
O crescimento da procura por bebés reborn pode ser visto como sintoma de uma sociedade em que muitas pessoas, especialmente mulheres, carecem de escuta, vínculo e apoio emocional real. Não se trata de julgar, mas de compreender. É legítimo buscar conforto em objectos simbólicos, desde que isso não substitua os laços humanos nem esconda sofrimentos mais profundos.
Os bebés reborn, usados com consciência, podem ser uma forma de expressão emocional e até de cura. Mas como tudo na vida emocional, é preciso equilíbrio. Cuidar de si também passa por saber quando algo que parece reconfortante pode, na verdade, estar a ocupar um vazio que precisa ser olhado com mais profundidade.
1 comentário
Matéria bem actual e que faz-nos pensar muito na questão da saúde mental especificamente das mulheres que estão fragilizadas.
No meu ponto de vista, os promotores destes bebês, encontraram um solo fértil para ganharem muito dinheiro ,considerando que muitas mulheres incapazes de gerar uma vida por questões de saúde na sua maioria, sentem que podem preencher este buraco emocional que se criou na vida delas a ponto de sentirem que um bebê humano merece o mesmo tratamento que um bebê reborn.
É uma pena que não haja algum tipo de empatia por parte de quem vende e faz acreditar que um bebê reborn é o mesmo que um ser humano bebê.
Finalmente acredito eu que a saúde mental destas famílias que optaram por ter um bebê reborn só vai se deteriorar dia após dia.
Estamos juntas.