Uma decisão histórica tomada pelo Conselho de Segurança do Irão poderá marcar o início de um novo capítulo para os direitos das mulheres no país. A aplicação da lei que obrigava o uso do hijab – o véu islâmico, em público foi oficialmente suspensa, o que abre espaço para um debate urgente sobre liberdade, auto-determinação e direitos humanos.
Durante mais de quatro décadas, todas as mulheres no Irão, independentemente da sua religião ou convicção pessoal, foram legalmente obrigadas a cobrir o cabelo em espaços públicos. A medida, profundamente enraizada no regime pós-revolução de 1979, tornou-se um símbolo de controlo sobre o corpo feminino.
A pressão social e política em torno desta lei atingiu o seu ponto crítico após a morte de Mahsa Amini, em 2022, sob custódia da chamada polícia da moralidade, acusada de não usar o véu de forma apropriada. A tragédia provocou uma onda de protestos que se espalhou pelo país e pelo mundo sob o lema – Mulher, Vida, Liberdade.
Agora, com a nova decisão do Conselho de Segurança, a imposição do uso do hijab e as sanções associadas – como detenções ou multas – estão temporariamente suspensas. Ainda que a lei não tenha sido formalmente revogada, o sinal político é forte: as autoridades sentem a urgência de adaptar o regime a uma sociedade em transformação.
Segundo o comunicado oficial, a medida pretende preservar a coesão social e reavaliar os impactos negativos da repressão sobre a ordem pública. No entanto, sectores mais conservadores do regime manifestaram uma forte oposição e classificaram a suspensão como um atentado aos valores islâmico.
Por outro lado, activistas de direitos humanos sublinham que a suspensão, embora simbólica e importante, não é suficiente. Reforçam que a única verdadeira vitória será a revogação definitiva da lei e a garantia de liberdade individual para todas as mulheres – iranianas ou não.
A juventude iraniana, hoje mais conectada ao mundo digital, com acesso a outras narrativas e realidades, tem demonstrado uma nova forma de resistência – informada, corajosa e profundamente comprometida com mudanças estruturais.
Para muitas mulheres, esta suspensão representa um sopro de esperança. Um lembrete de que a luta por autonomia sobre o próprio corpo não tem fronteiras e continua viva – em Teerão, em Luanda, em qualquer parte do mundo onde ser mulher ainda signifique lutar por liberdade.