O luto é um processo real, doloroso, intenso, muito triste e necessário para quem está a passar por situações tristes de perda. Vi há dias uma mensagem de um jovem numa das páginas que sigo, que era um desabafo porque ele dizia que perdeu a mãe e não conseguia sair da tristeza, não conseguia perceber nem encontrar uma saída.
Só por ter perdido a mãe, já me identifiquei, mas não é só por isso. É que depois de perder e ver muita gente perder pessoas queridas, percebi que ninguém está preparada para passar pelo luto, ninguém ensina como ultrapassar, nem como atravessar esse processo tão doloroso que acaba por alterar a vida de uma pessoa.
Ainda essa semana vi também nas redes sociais a informação sobre um jovem que suicidou-se, supostamente por depressão, uma doença que anda por aí, tão silenciosa quanto o luto, duas situações que levam a pessoa a viver uma profunda tristeza, não sei se há alguma relação entre as duas situações, porém para leigos como nós, sim, parecem ter relação caso não sejam tratadas, acompanhadas e resolvidas.
Não sou psicóloga então não tem nada de científico nesse texto, é apenas uma apreciação ao que acontece nestes momentos tristes, sei que o texto é triste mas a minha intenção é que seja educativo, também sei que quase não se fala ou escreve sobre o luto, mas alguém devia preparar-nos para enfrentar a dor que se sente.
Hoje, sou uma pessoa dividida em antes de ter perdido a minha mãe e depois deste facto. Não tem como uma situação destas não mudar a nossa forma de viver e de ver a vida. Hoje, não tem muita coisa que me abala, o que pode ser pior que perder a minha mãe? Há muitos problemas que me preocupam que antes eu só tinha que ligar à minha mãe e ela tinha logo uma palavra apropriada que já parecia solução.
Hoje, depois de ter vivenciado o luto algumas vezes, percebi que é um processo longo, doloroso e que há diferentes fazes. No início, há o choque, a procura de respostas, a condição de vítima: por que comigo, por que essa pessoa, quem fez isso, e agora, como será? Depois vem a dor intensa, a condição em que nada mais importa, tudo é tanto faz, queremos ficar sozinhas, tudo é irritante, nada faz sentido, só queremos sofrer em paz.
A seguir vem a fase em que percebemos que, apesar da dor precisamos continuar a viver porque o mundo não vai ficar a nossa espera, a vida continua, achamos injusto a vida continuar apesar da nossa dor, continuamos com dor, numa tristeza terrível mas temos que nos forçar a viver e cuidar dos que ficaram e de nós.
No fim percebemos que o problema não é sentir dor, é como vamos viver com ela, que quem se foi não é culpado pois podia ter acontecido com qualquer um até mesmo connosco, e nós vamos, devemos e precisamos continuar a amar a pessoa, independentemente de estar aqui ou não a pessoa não acabou nem o que sentimos por ela, só precisamos nos adaptar ao novo formato que a vida nos apresenta.
No fim, voltamos a pensar, a falar sobre a pessoa com um sorriso, porque percebemos que fomos abençoadas pelo tempo que passamos com essa pessoa, devemos ser gratas pela vida e oportunidade de cruzarmos as nossas histórias em algum momento e assim voltamos a sorrir e a viver, convivendo com a ausência da pessoa e o luto vira saudade, uma lembrança alegre e uma história linda que fica em nós.
Hoje eu me preocupo em ser uma boa pessoa, em viver bons momentos, em estar na vida das pessoas que eu amo porque no fim, o que conta são as partilhas e os momentos que passamos com as pessoas. Se há um tempo definido para o processo de luto, não sei, penso que depende e varia de pessoa para pessoa.
Este tema fala exactamente do que vivo com a minha mãe. Já passam 6 anos e ela não consegue superar a perda do marido (meu pai). Podemos ter como filhos, todas as palavras de consolo, ler passagens bíblicas de consolo e esperança mas nada é suficiente ou traz um efeito positivo. Ela não fala do meu pai nem das coisas boas nem das possíveis coisas más. É complicado e doloroso lidar com isso. Certo dia participei de um workshop sobre psique análise e a psicóloga, após algumas dinâmicas e exercícios disse-me que não vivi as fases do luto do meu pai inclusive sempre que falo dele, na maioria das vezes choro e falo ainda com dor em muitos casos.
Obrigada por trazer este tema de extrema importância.
Mia Dulce