Celebra-se hoje o Dia Mundial da Criança, uma data que nos convida a olhar para o presente e o futuro dos mais pequenos com mais atenção, mais empatia e, sobretudo, mais responsabilidade.
Num tempo em que a infância parece mais acelerada do que nunca, as crianças vivem realidades complexas, muitas vezes silenciosas, que revelam um desequilíbrio entre o que lhes é dado e o que realmente precisam para crescer saudáveis e felizes.
Sozinhas num mundo hiper-conectado
Hoje, muitas crianças passam horas sozinhas em casa. Os pais saem cedo para o trabalho, regressam tarde, e o tempo partilhado em família é curto, fragmentado, por vezes inexistente.
Nesse vazio, quem ocupa o espaço? A televisão. O telemóvel. O tablet. As redes sociais. A internet transformou-se numa espécie de companhia silenciosa e constante, onde o entretenimento é rápido, a informação é infinita, e o contacto humano, escasso.
Mas será esta a infância que sonhamos? Crianças que, em vez de brincar na rua, exploram vídeos no YouTube? Que, em vez de conversar à mesa, enviam mensagens instantâneas? Que aprendem o mundo sem sair da cadeira?
Infâncias com medo
A insegurança também marca esta geração. Se antes andar de bicicleta no bairro era sinónimo de liberdade, hoje é motivo de preocupação. Os assaltos, os raptos, a violência urbana – todos estes perigos reais impedem muitas crianças de viver a rua como espaço de descoberta. Em vez disso, vivem confinadas a espaços fechados, com movimentos vigiados e rotinas altamente controladas.
É uma infância com menos liberdade, menos espontaneidade e mais medo.
Bens não substituem presença
Na tentativa de compensar a ausência, muitos pais oferecem o que podem: brinquedos, roupa de marca, tecnologia de ponta. Mas os bens não substituem a presença, o afecto, o olhar atento, o abraço sem pressa.
Há crianças com quartos cheios e corações vazios. Que trocariam o mais recente gadget por uma tarde a jogar com os pais, a rir em família, a ouvir uma história antes de dormir.
Infância é urgência
Este Dia Mundial da Criança deve ser mais do que uma celebração simbólica. Deve ser um alerta. Um lembrete de que infância não se repete. Que há uma urgência em proteger, cuidar e acompanhar. Que cada criança merece sentir-se segura, ouvida e amada, não apenas com palavras, mas com gestos e tempo.
Porque cuidar de uma criança hoje é garantir um adulto mais saudável amanhã. E, no fundo, é cuidar do mundo inteiro.