O Dia da Trabalhadora – sim, é importante dizê-lo no feminino – não precisa ser celebrado com frases feitas ou imagens de arquivo. Pode, e deve, ser um momento de pausa para reflectirmos sobre o que significa, de verdade, trabalhar.

Para muitas de nós, o trabalho é o que sustenta a casa.
Para outras, é realização pessoal, autonomia, identidade.
Pode ser um sonho concretizado, ou pura necessidade. Pode dar orgulho… ou cansaço.

Desde pequenas, ouvimos que “crescer é estudar, trabalhar e ser alguém na vida”.
Há uma expectativa social que nos empurra para a autonomia: atingir a maioridade, conseguir o primeiro emprego, ganhar o próprio dinheiro, começar a construir o nosso caminho.
E há uma emoção genuína nesse início: o primeiro salário, o primeiro crachá, o brilho nos olhos por sermos, enfim, independentes.

Para muitas de nós, o trabalho é o que sustenta a casa

Muitas jovens entram no mercado de trabalho cheias de entusiasmo e expectativas, prontas para contribuir, criar, liderar. Descobrem a força de terem uma voz activa, de pensar, resolver problemas, de tomarem decisões e de sustentarem a si mesmas.
Mais do que um salário, o trabalho pode trazer dignidade, segurança e a satisfação de saber que somos capazes.

Mas também há surpresas. Há dias em que trabalhar cansa. Em que a produtividade exige mais do que o corpo e a mente conseguem dar.
Há metas, cobranças, desequilíbrios. E para muitas mulheres, o fim do expediente não existe – chega-se a casa para um segundo turno invisível: cuidar, educar, organizar, alimentar, apoio emocional da família inteira.

Há mães que adiam sonhos, guardam diplomas, gerem culpas entre reuniões e telefonemas da escola. E ainda assim, continuam. Porque também têm expectativas, planos, e direito ao sucesso.

Há mulheres que lutam por visibilidade em espaços onde ainda se duvida da sua competência.
E mesmo assim, seguem. Porque também têm ambições. Porque também merecem chegar lá.

E há, ainda, quem já tenha passado por todas essas fases.

Quem já trabalhou por décadas e agora vive o desafio do pós-trabalho. A reforma, o desacelerar forçado, o depender do que foi possível construir.
E parar, por vezes, é mais difícil do que continuar.

Neste Dia da Trabalhadora, não celebramos apenas cargos, funções ou datas no calendário.
Celebramos o trabalho como um acto de coragem, as escolhas silenciosas, os esforços que não se vêem, as metas que não cabem em relatórios.
Celebramos as várias formas de trabalhar – as visíveis e as invisíveis – e todas as fases desta caminhada: do primeiro salário à reforma, do entusiasmo juvenil à reinvenção adulta.

Porque trabalhar é humano, mas não nos define por inteiro.
É um direito que deve ser digno, acessível e respeitado.
E cada mulher que trabalha – dentro ou fora de casa – merece ser reconhecida, valorizada e celebrada. Sempre.

E tu, como vives o teu trabalho hoje? Que sonhos carregas contigo todos os dias?
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2 comentários

  1. Noemia Dulce João on

    Feliz nosso dia sim.
    Realmente quando se entra no mercado de trabalho vamos com muitas expectativas algumas se realizam outras nem por isso.
    Mas fico feliz que muitas mulheres estejam no mercado de trabalho por uma questão de realização pessoal e independência financeira.

    Eu sinto-me privilegiada por ter um trabalho e consequentemente por ter a minha independência financeira. Também me sinto muito mais feliz ainda quando consigo oferecer resultados do trabalho que realizo tanto a nível da organização a que pertenço bem como a nível de negócios pessoais.

    É bom ver a satisfação das pessoas quando suprimos alguma necessidade.

  2. Dorita Magalhães on

    Desde o princípio vi o trabalho como a fonte principal pra sustentar a casa, por este motivo comecei desde cedo. Porque muito cedo assumi essa responsabilidade.

    Com o passar dos anos, com o ganhar da experiência, fui me apaixonando por coisas que fui fazendo e daí começou a nascer outra perspectiva sobre o que é trabalhar.

    Notei que para além de sustentar a casa, pode ser algo que pode elevar a minha autoestima, ter o autoconhecimento e daí ganhar uma identidade própria., e verdade seja dita, gosto muito de trabalhar.

    Mas um aspecto negativo: apesar de trabalhar sempre com pessoas, mas ainda sim eu me dei conta que era pouco socialvel, ou seja eu só tinha isso no local de trabalho e a minha vida sempre foi trabalho-casa.

    Neste momento sem trabalhar, acabei me dando conta disso, não tenho pra onde ir e acabo ficando em casa!

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