2 de Abril. A data não foi escolhida ao acaso. Desde 2007, quando foi oficialmente proclamado pela Organização das Nações Unidas, o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo chama o mundo à atenção para uma condição que está presente em milhões de famílias. Um dia azul, mas nem sempre leve. Um dia para lembrar que por trás do arco-íris das redes sociais existem histórias de luta diária, exaustão emocional e conquistas silenciosas.
Muito além do “fofinho”
Durante anos, a internet contribuiu – talvez sem querer – para a romantização do autismo. Aquela imagem da criança “especial”, sorridente, que diz frases inesperadas, que tem talentos “diferentes”. Mas ser mãe, pai ou cuidador de uma criança no espectro não é um conto doce. É um desafio constante, por vezes solitário, quase sempre desgastante.
Em Angola, essa solidão pesa ainda mais. As infraestruturas são escassas, os diagnósticos são tardios ou inexistentes, as escolas não estão preparadas – e as que estão, têm preços proibitivos. As terapias essenciais – como a psicomotricidade, a terapia da fala, a análise comportamental aplicada (ABA), entre outras – são caras, difíceis de manter a longo prazo e muitas vezes inacessíveis para a grande maioria das famílias.
Mães que não param
Na maioria dos casos, quando uma criança é diagnosticada com autismo, a rotina da família vira do avesso. E quem geralmente segura tudo? A mãe. Porque muitos pais ainda abandonam, negam, fogem. Porque a sociedade ainda espera que seja a mulher a cuidadora principal. E porque há poucas redes de apoio, tanto institucionais como emocionais, que realmente funcionem.
Ser mãe atípica, para muitas mulheres angolanas, é viver num ciclo de espera e resistência. É não poder adoecer. É aprender sozinha o que médicos não explicaram. É perder empregos, adiar sonhos, sentir culpa. Mas também é transformar cada micro evolução do filho numa explosão de alegria.
Cada pequeno passo é um milagre
Quem vive com uma criança no espectro sabe: cada palavra falada, cada olhar nos olhos, cada abraço espontâneo, é uma conquista. Um marco. Uma vitória. Porque às vezes os avanços demoram meses, anos. Às vezes não vêm. Às vezes vêm e depois desaparecem. Mas mesmo assim, a esperança nunca morre.
O amor de uma família por uma criança autista é feito de paciência, de fé e de uma entrega que nem sempre é visível. É uma luta diária por dignidade, por inclusão, por respeito. É recusar a ideia de que o filho “não vai conseguir” e continuar, todos os dias, mesmo quando tudo parece parado.
A importância de olharmos para esta causa
O autismo não é um problema. Não é um castigo. É uma condição neurológica que exige compreensão, estrutura e adaptação. É parte da diversidade humana. O problema está na falta de políticas públicas, de formação especializada nas escolas, de acolhimento nos centros de saúde, de empatia social.
A luta das famílias atípicas não é só delas. É de todos. Porque um mundo mais acessível para pessoas neurodivergentes é um mundo melhor para toda a gente. Hoje, neste 2 de Abril, não queremos apenas “consciência”. Queremos acção. Mais apoios. Mais investimento. Mais humanidade. E que cada um de nós, mesmo não vivendo essa realidade, possa perguntar:
– Como posso ajudar? Como posso acolher? Como posso fazer parte da mudança?
Para todas as mães que não descansam, que carregam o mundo no colo dos filhos, que aprendem uma nova linguagem todos os dias: nós vemos-vos.
Vocês são gigantes. Hoje é o vosso dia também. 💙Um abraço especial à Neusa!