Nem sempre nos damos conta, mas muitas das nossas mudanças de humor, cansaço excessivo ou irritabilidade podem estar directamente ligadas ao ciclo menstrual. A ansiedade cíclica é real, afecta milhões de mulheres e precisa de ser falada com naturalidade, empatia e informação.
O que é ansiedade cíclica?
Trata-se de alterações emocionais e psicológicas que ocorrem em fases específicas do ciclo menstrual, em especial na fase lútea — dias antes da menstruação — quando há uma queda brusca dos níveis de estrogénio e progesterona. Estas oscilações hormonais influenciam a produção de neurotransmissores como a serotonina, responsável pelo nosso bem-estar.
Sintomas mais comuns:
- Irritabilidade intensa;
- Angústia sem razão aparente;
- Sensação de pânico ou medo excessivo;
- Insónia ou sono em excesso;
- Falta de concentração;
- Sensação de cansaço extremo ou apatia.
Quando é mais intenso?
Nos casos mais graves, pode configurar o chamado Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM), uma versão mais severa da tensão pré-menstrual (TPM), que compromete de forma significativa a qualidade de vida.
Como lidar?
- Autoconhecimento: Registar os sintomas e observar em que fase do ciclo ocorrem é um primeiro passo essencial. Aplicações de monitorização menstrual podem ajudar bastante.
- Alimentação equilibrada: Reduzir o consumo de açúcar e cafeína e apostar em alimentos ricos em magnésio, vitamina B6 e ómega-3 pode ajudar a estabilizar o humor.
- Actividade física: A prática regular de exercício físico melhora os níveis de serotonina e promove o equilíbrio hormonal.
- Psicoterapia: Falar com uma psicóloga pode ajudar a identificar padrões, desenvolver estratégias de autocontrolo e lidar melhor com os sintomas.
- Apoio médico: Em casos mais severos, é importante procurar um ginecologista ou endocrinologista para avaliação e possível prescrição de tratamentos específicos.
Normalizar e falar sobre ansiedade cíclica é quebrar o silêncio sobre uma realidade que muitas mulheres vivem em silêncio. Quando compreendemos os sinais do nosso corpo, conseguimos agir com mais gentileza, paciência e estratégia. Não se trata de fragilidade. Trata-se de biologia, de saúde emocional e, acima de tudo, de humanidade. O nosso ciclo não define o que somos, mas entender como nos afecta pode mudar a forma como cuidamos de nós mesmas.
1 comentário
Tenho aprendido a reconhecer melhor os sinais do meu corpo, e a verdade é que, apesar de todo o trabalho que tenho feito ao nível do autocontrolo, há fases em que sinto uma espécie de descompasso interior. Irrito-me com mais facilidade, o cansaço pesa mais do que devia, e há uma ansiedade que aparece sem grande razão. Durante muito tempo tentei ignorar ou racionalizar tudo isto, mas hoje vejo que o ciclo menstrual tem mesmo um impacto forte no meu estado emocional. Não é uma desculpa, é uma realidade que aprendi a respeitar. Saber identificar estes momentos ajuda-me a ser mais paciente comigo e a ajustar o meu ritmo quando preciso. É um processo. Um trabalho de dentro para fora.